Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobro de um sineiro
(...)
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!...
(...)
Se uma lágrima as pálpebras me inundam
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
(...)
Descanse o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- Foi poeta – sonhou – e amor na vida.
(Álvares de Azevedo. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro, Aguilar/MEC, 1971. Página 107-8.)